Em pequenas cidades o desafio é criar uma consciência sobre a importância de se procurar auxílio após ter relações sexuais de risco
“Faltava muito conhecimento. Era chamada morte iminente, era chamada peste gay. A morte era realmente iminente, então todos morriam de fato. Perdi muitos amigos. E consequentemente por conta da infecção eu me calei, pra não acontecer de ser excluído do meio social. Hoje me considero um milagre de Deus...”.
Este é o depoimento de Dorival Moreira da Silva, morador de Toledo. Ele vive com o vírus HIV há mais de 20 anos. Nos primeiros deles não procurou ajuda, teve vergonha e medo de rejeição por ter contraído o vírus da AIDS. Chegou à beira da morte. Depois, aprendeu a conviver com o problema e atualmente Dorival faz parte de uma associação que ajuda pessoas que também contraíram a doença.
Passados anos deste episódio, hoje ainda muitos passam pela mesma situação. Em cidades de pequeno porte, como é o caso de Tupãssi – com apenas 8 mil habitantes - o quadro é considerado grave pelos profissionais de saúde, porque muitas pessoas com comportamento de risco ou mesmo com algum tipo de Doença Sexualmente Transmissível não procuram o auxílio adequado.
“Eu acredito que os pacientes têm certa resistência em procurar a ajuda dos profissionais, por todos se conhecerem fora do estabelecimento de saúde. Isso dificulta para que as pessoas procurem a gente para tratamento, informação, etc. Principalmente como se trata da intimidade, o fato de ser relação sexual, envolver partes íntimas, eles fogem um pouco disso”, explica a enfermeira responsável pelo Hospital Municipal de Tupãssi, Kassiana Cristina Rayser.
Na região, especialmente em pequenas cidades, é difícil criar uma consciência sobre a importância de se procurar auxílio após ter uma relação sexual de risco, sem preservativos. Segundo a gerente do Centro de Testagem e Aconselhamento do Consórcio Intermunicipal de Saúde Costa Oeste do Paraná (Ciscopar), Suzana Guizo, até mesmo para retirar o preservativo em um posto de saúde os moradores não se sentem à vontade.
“As pessoas ainda têm vergonha de chegar e pedir o preservativo. Hoje nós temos o masculino e o feminino, que faz com que a mulher também tenha a opção de se proteger. É totalmente gratuito, mas pessoas ainda têm preconceito”, diz Suzana.
A preocupação com as doenças sexualmente transmissíveis é constante, especialmente a respeito da prevenção, por ser um sério problema em todo o país. Para se ter uma ideia, de acordo com dados do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, a cada ano surgem mais de 1,5 milhão de novos casos de gonorréia, 930 mil casos de sífilis, 640 mil de herpes genital e mais de 685 mil casos de HPV. Com relação à AIDS os dados também assustam. Na contramão do mundo, o Brasil amargou um aumento no número de infectados pelo vírus e atualmente possui mais de 720 mil pessoas vivendo com o HIV. Estima-se que pelo menos 150 mil não sabem que são portadoras do vírus.
Em Tupãssi, para tentar amenizar a situação e fazer com que a procura aos serviços de saúde aumente, a secretaria responsável pelo setor criou ações e campanhas de conscientização. A enfermeira chefe do Posto de Saúde Central, Mírian Midori, precisou mudar o esquema de distribuição de preservativos, para que os moradores se sentissem mais à vontade para retirá-los.
“Todo o setor do posto de saúde tem um preservativo à disposição. Vai ser entregue em pacotinho para propiciar mais sigilo. A pessoa pode procurar em qualquer lugar. E se tiver dúvida de como usar, porque a gente tem o preservativo feminino também, ela pode procurar a sala de enfermagem” explica a enfermeira.
A Secretaria de Saúde orienta: se você teve algum tipo de relação sexual de risco, caso não usou preservativo ou se ele se rompeu durante a relação, procure a unidade de saúde para receber o devido atendimento.
Dúvidas e informações no Centro de Saúde em Tupãssi - pelo telefone (44) 3544-8130. Ou no Centro de Testagem e Aconselhamento em Toledo no telefone (45) 3262-3524.
Reportagem: Murilo Battisti
FONTE: PORTAL TUPASSI