Há 20 anos o Paraná não registrava casos de sarampo. Não registrava... Isso porque em 2019, em decorrência do baixo índice de imunização, a doença acabou ‘ressuscitando’. A boa notícia é que o episódio pode servir de alerta à população, para não permitir que outras doenças, como a poliomielite (cujo último caso foi registrado há 33 anos no Paraná), voltem a ser diagnosticadas no estado.
Tal alerta se faz necessário em decorrência na redução da cobertura vacinal de diversas doenças. No caso da poliomielite, por exemplo, a taxa de cobertura em 2018 foi de 87,8%. Neste ano, até setembro, já caiu para 86,31%. O esquema vacinal são 3 doses de VIP (Vacina Inativada Poliomielite) dada aos 2, 4 e 6 meses de idade. O reforço é dado com a VOP (Vacina Oral Poliomielite) aos 15 meses e 4 anos de idade. Considerando-se todo o esquema, houve queda de 34,65% no número de doses aplicadas, que passaram de 692.957 para 452.881.
Com relação ao HPV (Papilomavírus Humano), o cenário é o mesmo: no ano passado, a cobertura era de 15,74%. Neste ano, está em 12,78%, com o total de aplicações caindo 18,78%, passando de 69.311 doses em 2018 para 56.292 em 2019. A vacina é aplicada em meninas de 9 a 14 anos e em meninos de 11 a 14 anos.
Para Fernanda Crosewski, técnica do Programa de Imunização da Sesa, essa queda na cobertura vacinal tem a ver com o próprio sucesso do programa de imunização no estado. “Costumamos dizer que o programa de imunização é vítima do seu próprio sucesso. Atribuímos (a queda), até de outras vacinações, à própria ausência da doença. A população em geral se alimenta pelo medo”, cita a especialista.
Como exemplo, inclusive, ela cita o próprio caso do sarampo. “Sarampo teve queda na cobertura nos últimos anos e a reintrodução da doença no estado foi pela baixa cobertura. Quando confirmou (o primeiro caso), teve explosão (da procura) nas unidades. Então a ausência de casos faz com que diminua a procura por vacinação”, explica.
No caso da poliomielite, não temos casos no Paraná há 33 anos, com o último caso tendo sido registrado em 1986. Já no Brasil como um todo, o último caso foi em 1989. “O que não queremos é a vulnerabilidade da nossa população. Baixa cobertura é sinônimo de não proteção. E aí há o risco de pessoas pegarem a doença, de reintrodução da polio”, comenta.
Já com relação ao HPV, cujos diagnósticos da doença são mais frequentes, ela comenta que o problema estaria naquilo que poderíamos chamar de invisibilidade da doença e também no perfil do público-alvo das campanhas de vacinação. “O HPV é uma doença invisível e também tem a questão da população vacinada. São mais adolescentes, que não costumam adoecer com frequência, comparaecer em sala de vacinação”.
Combate à desinformação é fundamental
Ainda segundo a técnica do Programa de Imunização da Sesa, a principal medida que tem sido tomada para se reverter o quadro de baixa na cobertura vacinal é o combate à desinformação. A ideia, explica Fernanda, é que a pessoa precisa entender que se vacinar faz parte do processo de autocuidado e prevenção.
“A vacinação tem de estar na nossa listinha. Ao lado de atividade física e alimentação adequada, a vacinação em dia”, afirma a especialista. “Quanto mais informações corretas a população obtiver, melhor será o caminho na busca por qualidade de vida, prevenção. A população é coadjuvante, tem de ter o autocuidado. Não sou eu, o Estado ou algum profissional de saúde que tem de buscar essa pessoa (para se vacinar). Tem de ter consciência que faz parte do cuidado dela.”
Imunização começa no nascimento e segue até a velhice
Mais importante do que a cobertura vacinal em si, explica Fernanda Crosewski, é saber que a população está protegida. E isso acontece quando se tem a circulação do vírus confirmada, mas ainda assim a população não tem a doença. E para isso, é fundamental que se quebre com o mito de que vacinação é coisa para criança, conscientizando sobre a importância de, em todas as fases da vida, a pessoa estar imunizada.
“Esclarecimento é fundamental para conscientizar a população da importância de manter a vacinação em dia. Tirar o mito de que vacinação é coisa de criança. Vai do nascimento até a população mais idosa, todas as fases da vida têm calendário específico. E não à toa esse calendário existe, é de acordo com o risco”, aponta a especialista.
No site da Sesa (saude.pr.gov.br), inclusive, é possível verificar o calendário do programa de imunização. Para isso, procure pela sessão “Vacinas”, na faixa direita de sua tela. Você será encaminhado à página do Programa Estadual de Imunização e poderá conferir mais detalhes clicando em “Calendário Nacional de Imunização”.
FONTE: BEM PARANÁ